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As transições energética e geopolítica e a slowbalization
27/06/2024 14:30

"Há um aspeto que torna as energias renováveis superiores aos combustíveis fósseis, do ponto de vista geopolítico. As energias renováveis exploram fluxos de energia abundantes e acessíveis como a energia solar, a energia eólica, a energia hídrica, a energia geotérmica, etc., que não podem ser nunca inteiramente capturados para fins geopolíticos", afirmou Lívia Franco, professora associada e investigadora principal no Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa, na sua comunicação, "As alterações Geopolíticas do mundo pós-carbono", durante a 3.ª edição do Electric Summit, o Fórum Transição Energética e Mobilidade em Portugal 2024. Citou Jimmy Carter, antigo Presidente dos Estados Unidos, que, na década de 1970, na ressaca do choque petrolífero, disse "ninguém pode embargar o Sol ou interromper-nos o seu fornecimento".

Lívia Franco sublinhou que o mundo está em transição para o pós-carbono, numa passagem entre dois sistemas, um ainda muito assente nos combustíveis fósseis e um sistema que procura mais recursos de energia limpa ou renováveis. Mas também está numa transição geopolítica, com a ordem liberal internacional, que regeu a vida do mundo nos últimos 80 anos, desde a II Guerra Mundial, e que, no final da Guerra Fria em 1989, espoletou a globalização, "está ser fortemente questionada". É o curso de uma transição sistémica de poder, com a emergência de um mundo bipolar, caracterizado pelas dinâmicas de competição entre os EUA e a China, a que somam potências regionais do Sul global. Mas também se está a dar uma reconfiguração da globalização, e, hoje, já se fala "em slowbalization, uma desaceleração da globalização", disse Lívia Franco. Esta nova realidade manifesta-se em maiores barreiras ao comércio global, o reforço do unilateralismo, que afeta o poder das instituições globais enfraquecidas nas suas respostas. "Estamos a assistir a uma transformação da globalização, mas o seu elemento central, determinante da própria globalização, mantém-se, é a interdependência", referiu Lívia Franco..

Europa e a Guerra Fria

É uma variação da Guerra Fria, diferente da clássica que se viveu entre 1947 e 1991, sobretudo, por causa da globalização. Se a clássica assentava num jogo de competição entre dois sistemas, o soviético e o ocidental, hoje a globalização não tem periferias. A competição é entre os EUA e a China, e que de certo modo capturou a globalização, mas conta ainda com protagonismo de grandes potências regionais como a Rússia, que, apesar de estar numa rota de declínio, quer ser ainda um grande ator, a razão direta pela qual começou a guerra na Ucrânia, mas também do Irão, da Índia, da Indonésia, da África do Sul, do Brasil, "adversários de uma ordem liberal e ocidental".

A interdependência fomenta uma maior cooperação, respostas comuns para problemas comuns, no entanto, a realidade internacional também mostra que a interdependência pode ser recinto e arma de uma competição num contexto global. Lívia Franco
Professora Associada e Investigadora Principal no Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa
A Europa considerava que com a integração europeia entrava "num período histórico pós-poder, em que a geopolítica, o poder da força, já não era determinante. Tinha encontrado a receita para viver num mundo de paz e de cooperação," mas tornou-se palco deste confronto bipolar, porque a Europa já não é um grande poder, referiu Lívia Franco.

Na sua opinião, o olhar sobre a segurança energética tradicional, que marcou o século XX, é um olhar muitíssimo simplificado e unidimensional. Baseou-se, sobretudo, no controlo das fontes energéticas, sobretudo de energia fóssil, até que, com o choque petrolífero na década de 1970, começou a haver uma maior flexibilidade para encontrar fontes de fornecimento alternativas. Mas esta evolução não é suficiente. "É necessário introduzir uma maior complexidade na forma como se pensa a energia e a segurança energética."

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