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Era escanzelada e tinha uma boina
23/03/2025 10:00

Fora uma assaltante e assassina impiedosa, mas tinha sido também directora de programas de uma estação de televisão, o que, diga-se, era só uma mais benigna e eufemística variação daquela sua primeira condição. Eu sabia das histórias de corrupção do seu pai e das suspeitas de ela ter sido vítima de abuso e incesto, como sabia do seu envolvimento clandestino com alguém da CIA.

E, agora, ali estava ela, na mansão do "big boss" de um dos grandes estúdios de Hollywood, sentada à mesa comigo e com o meu amigo Lucílio. Eram dois vastos jardins, uma banda mexicana no jardim de baixo, uma de jazz no de cima. Escolhemos o jazz e o jardim de cima. Os 52 anos dela eram um gracioso caixão onde escondia um passado glorioso. Mas as maças do rosto, ossos proeminentes, de uma delicada electricidade, continuavam a ser as mesmas da rapariga nascida em Bascom, Florida, uma puríssima "Southern girl". Faltava-lhe só a boina francesa com que fora Bonnie Parker, em "Bonnie e Clyde", dado que, como já perceberam, estou a falar de Faye Dunaway.

Começo por essa boina. Foi uma espécie de Pê éRRe éRRe para o têxtil francês. Logo que "Bonnie e Clyde" chegou aos cinemas, a produção passou das 1.500 para 20 mil boinas por semana. A verdade é que os franceses são bem mais amigos dos seus amigos do que os portugueses e condecoraram-na como Oficial da Ordem das Artes e Letras. Tudo por uma boina.

Ora, o que eu e o Lucílio descobrimos foi uma Faye que, à inexcedível vivacidade esperada, juntava inteligência. Estudou em duas universidades na Florida, uma terceira em Boston, onde se formou em teatro. As suas notas raramente foram menos do que A - o nosso 20, digamos -, sempre criando à sua volta uma barreira de vidro: vivia só com o irmão e a mãe, abandonados pelo pai, um sargento do exército, que abandonou o lar e nunca mais os voltou a ver. Com uma economia familiar no fio da navalha, o que Faye mais temia era que algum apaixonado lhe pedisse o número de telefone: não tinham nenhum, o que naquela América era um anátema.

Fez teatro e estudou com Elia Kazan. Chegou ao cinema: um contrato com Otto Preminger para seis filmes. Chocou com o intratável Preminger, a quem pôs um processo, recuperando a liberdade. Contra a vontade de Warren Beatty, Arthur Penn, o realizador, mandou-a vir a Los Angeles: talvez pudesse ser a Bonnie do "Bonnie e Clyde". Só que Beatty já tinha Jane Fonda e Natalie Wood na linha da frente, e Faye não era ainda "ninguém". Conquistou Penn e Beatty rendeu-se. Pediram-lhe uma beleza escanzelada: Faye fez dieta de fome, pôs pesos nos pulsos, cintura e tornozelos, e em 15 dias perdeu 14 quilos. O resto é história, como são história os filmes que mencionei na abertura, o "Network", em que Faye é uma implacável directora televisiva, a obra-prima que é "Chinatown", em que se deu tão mal com Polanski, que lhe atirou urina à cara, ou o magnífico e insidioso "Três Dias do Condor", que nos faz ter saudades da velha CIA.

E o que o Lucílio e eu descobrimos foi que a mistura de sangue escocês, irlandês e germânico faz de Faye uma amante da Europa, o que ela converteu em intenso prazer na relação então secreta que manteve com o casado Marcello Mastroianni. Metia-se no avião à 6.ª feira para vir a Itália passar o fim de semana com ele. Ela queria casar e ter filhos dele. Ele queria uma paixão de deuses, mais do que humana. Ela deixou-o. Ele veio, frenético, a um hotel, tentar resgatá-la. Como Orfeu a Eurídice, mas encontrou só cinzas.

Facto é que, por vezes, a América e a Europa amam-se.

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