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Saúde mental no trabalho: uma "ferida" que as empresas falham em estancar
23/04/2025 13:30

Em todo o mundo, desperdiçam-se, anualmente, 12 mil milhões de dias úteis devido a depressão e ansiedade, com a produtividade perdida a traduzir-se num custo calculado em um bilião de dólares. Os números são da Organização Mundial de Saúde (OMS) e atestam o dano que a saúde mental no trabalho representa não apenas para o trabalhador, mas também para as empresas e, em última instância, para as economias e para as sociedades como um todo. A OMS aponta que "existem ações eficazes para prevenir os riscos para a saúde mental no trabalho", mas o crescente deteriorar do bem-estar emocional dos trabalhadores parece sinalizar que o tecido empresarial tem falhado em cuidar dos seus órgãos vitais. 

A OMS elenca múltiplos riscos para a saúde mental no trabalho: vão desde a subutilização de competências ou falta de qualificação, a cargas ou ritmos de trabalho excessivos, a um ambiente ou cultura organizacionais negativos, com apoio limitado de colegas ou chefias, passando por uma remuneração inadequada, um baixo investimento no desenvolvimento da carreira ou exigências que conflituam com a vida familiar, até fenómenos como discriminação, assédio ou intimidação. A desmotivação emerge, desde logo, como um dos primeiros sintomas de um quadro longe de ser animador. Segundo o State of the Global Workplace 2024, publicado pela Gallup, 62% dos trabalhadores estavam descomprometidos com a empresa para a qual trabalham. 

E isso tem consequências. A consultora estima, aliás, que o fraco envolvimento dos trabalhadores para com o emprego tenha um impacto económico de 8,9 biliões de dólares, o equivalente a 9% do produto interno bruto (PIB) mundial. "A saúde mental tem-se agravado. Nos últimos dez anos, o número de pessoas que expressam stress, tristeza, raiva ou preocupação tem vindo a crescer, atingindo os níveis mais elevados desde que iniciamos os inquéritos", observa o CEO da Gallup, Jon Clifton, na introdução do estudo anual, à luz do qual o envolvimento dos trabalhadores com o emprego estagnou e o bem-estar diminuiu em 2023, refletindo "uma notável falta de progresso".

Embora nem todos os problemas de saúde mental estejam relacionados com o trabalho, como ressalva a Gallup, os dados têm de ser colocados em perspetiva, se considerarmos, por exemplo, que sensivelmente seis em cada dez pessoas da população mundial trabalha ou que o trabalho ocupa a maior parte do dia e que constitui um fator de peso na avaliação da vida e das emoções diárias.

Os europeus mantêm-se como os mais insatisfeitos com os lugares de trabalho do que as pessoas de qualquer outra região do mundo, com um compromisso médio de 13%. Portugal, com 19%, fica acima da média europeia a esse nível e ligeiramente abaixo da mundial (23%), mas perde noutros. No plano do stress, por exemplo, a percentagem dos trabalhadores portugueses que o relataram sentir (44%) não só é mais elevada do que a média dos 38 países do Velho Continente (37%) como superior à calculada à escala global (41%), de acordo com a consultora. 

Portugal sem "investimento claro"

A Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP) estimou o custo do stress e dos problemas de saúde psicológica no trabalho em 5,3 mil milhões de euros em 2022, por força da perda de produtividade, ou seja, o equivalente ao que o Governo gastou no ano anterior em medidas para mitigar os impactos da pandemia. Do total: o absentismo custou 1,8 mil milhões de euros às empresas em Portugal, enquanto o presentismo - quando os trabalhadores vão para o seu local de emprego, mas funcionam abaixo das suas capacidades por determinado motivo - 3,5 mil milhões de euros. E nas contas - note-se - não entraram custos diretos, como os gastos com serviços de saúde ou seguros.

Não há números mais atualizados, mas a bastonária, Sofia Ramalho, não tem dúvidas de que o cenário piorou. "Não há dados novos, mas não alteram os resultados, porque em milhares de milhões não tem expressão e o que sabemos é que não vão no sentido de melhorar - há antes um agravamento de ano para ano dos problemas de saúde mental no local de trabalho e desses riscos psicossociais", diz Sofia Ramalho.

Há um agravamento de ano para ano dos problemas de saúde mental no local de trabalho e desses riscos psicossociais [como o absentismo ou o presentismo]."
Sofia Ramalho
Bastonária da Ordem dos Psicólogos Portugueses

Ao Negócios, Sofia Ramalho, que é especialista em Psicologia da Educação e Psicologia do Trabalho, Social e das Organizações, diz que a diferença estará no nível do agravamento dos custos: "O aumento pode é não ser de 60%, como foi face a 2020, porque coincidiu com a pandemia que trouxe alterações profundas aos modelos de trabalho", razão pela qual "até nem é propriamente comparável", mas "há um agravamento porque as pessoas estão a sentir-se dos impactos", seja das dinâmicas herdadas da era covid, seja de outros desafios como os associados à aposta na digitalização ou ao despertar da inteligência artificial. 

Realidades que vieram "exigir novas formas de liderar organizações" num país que, a esse nível, "não está muito afinado com as melhores práticas" e isto quando "a saúde psicológica é um risco estratégico porque as empresas perdem competitividade". 

"A saúde psicológica é um risco estratégico porque as empresas perdem competitividade". Sofia Ramalho
Bastonária da Ordem dos Psicólogos

"Não há um investimento claro na promoção da saúde psicológica no trabalho e em muitos locais há estigma", lamenta Sofia Ramalho, para quem "há uma subutilização das competências dos psicólogos no mundo do trabalho" que poderiam desempenhar um papel particularmente "muito importante" ao nível das lideranças", que "têm necessidades próprias" porque "mais do que gestoras de tarefas, gerem pessoas", carecendo de "um conjunto de competências", que vão desde a capacidade para ouvir, cuidar e até inspirar, até à promoção de um local de trabalho onde as pessoas se sintam bem e sobretudo motivadas.

"O plano estratégico de uma empresa carece de conciliação das necessidades das pessoas e da organização, acima de tudo, de envolvimento", sublinha a bastonária da Ordem dos Psicólogos, para quem faltam, de um modo geral, nas empresas estratégias integradas ligadas às perspetivas dos trabalhadores dentro e fora de portas: "Esses planos têm de estar ligados às carreiras, à aprendizagem e de contemplar propósitos de vida, porque é do desenvolver de perspetivas de futuro que advém o bem-estar".

E, neste sentido, "dinamizar atividades avulsas não vai produzir os efeitos que se pretendem", frisa.

O CEO da Gallup, Jon Clifton afina pelo mesmo diapasão tocando na ferida do stress. "Os líderes sabem que o stress no local de trabalho é um problema - viram os dados, ouviram-no dos seus colegas e experienciaram-no eles próprios [...]. Muitos tentam resolver o problema, mas, muitas vezes, de formas ineficazes", diz, apontando que não é com soluções populares como aplicações de bem-estar ou no tapete de ioga que o problema se resolve.

"Os líderes sabem que o stress no local de trabalho é um problema - viram os dados, ouviram-no dos seus colegas e experienciaram-no eles próprios [...]. Muitos tentam resolver o problema, mas, muitas vezes, de formas ineficazes"Jon Clifton
CEO da Gallup
5,3Custo
A Ordem dos Psicólogos Portugueses estimou o custo do stress e dos problemas de saúde psicológica no trabalho em 5,3 mil milhões de euros em 2022, por força da perda de produtividade.

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