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Red Eléctrica já sabia do risco de apagão há dois meses
29/04/2025 23:30

O risco de apagão generalizado na Península Ibérica já era conhecido pela Red Elétrica Espanhola (REE), que há apenas dois meses, no seu relatório anual de 2024, alertou para este "perigo hipotético". Nessa altura, a empresa falava já em eventuais "desconexões de geração" de energia elétrica que poderiam ser "severas" e afetar "significativamente" o abastecimento, por conta da elevada penetração de fontes de energia renovável, assinala o El País.

Já a Redeia, empresa-mãe da REE, também emitiu alertas relacionados com o encerramento de centrais a carvão, gás natural e nucleares no país, o que reduz a resiliência do sistema elétrico face a imprevistos, bem como a chamada "potência firme, o equilíbrio da rede, a sua robustez e inércia".

Depois de o pior cenário possível se ter, de facto, tornado realidade, com Portugal e Espanha mergulhados na "escuridão" por cerca de 12 horas, adensam-se agora as teorias sobre os "misteriosos eventos" que causaram um apagão nunca antes visto. Em conferência de imprensa, a REE explicou o que aconteceu no espaço de apenas 5 segundos, a partir das 11h33 desta segunda-feira: primeiro foi registada uma "espécie" de quebra de geração de energia na região sudoeste de Espanha, da qual o sistema recuperou; 1,5 segundos depois, uma segunda perda de produção; e 3,5 segundos mais tarde houve uma "disrupção na conexão" entre Espanha e França, que isolou a Península Ibérica da rede elétrica europeia. Seguiu-se um "'shutdown' massivo" das centrais renováveis espanholas, à qual o sistema ibérico não conseguiu "sobreviver", entrando em "extrema falência" e "colapso", descreveu Eduardo Prieto, diretor de Serviços e Operações da REE.

"Estas não são ainda conclusões definitivas, porque não temos informações completas", disse o responsável, acrescentando que a rede elétrica ibérica ficou mesmo "a zeros". Nas palavras do presidente do Governo espanhol, Pedro Sánchez, nestes cinco segundos registou-se uma quebra repentina de 60% da energia que o país estava a consumir no momento. Em menos de nada, 15 gigawatts "desapareceram" do sistema. No momento do apagão, o mix energético do país vizinho era dominado sobretudo por energia solar e eólica.

"Isto é algo que jamais aconteceu", admitiu o primeiro-ministro espanhol, acrescentando que "os especialistas ainda não conseguiram determinar o que provocou esta perda súbita no abastecimento de eletricidade, mas ainda iram fazê-lo". Sánchez prefere "não afastar nenhuma hipótese, nenhuma possibilidade", promete responsabilizar os "operadores privados" e tomar medidas para garantir que não aconteça novamente. Negou ainda que a interrupção tenha sido causada pela falta de energia nuclear no país, mais recentemente, e anunciou que Espanha solicitará um relatório independente de Bruxelas (ideia apoiada por Portugal).

Por seu lado, a REE descartou que o apagão tenha sido causado por um ciberataque, erro humano ou algum fenómeno meteorológico ou atmosférico incomum. E aponta para dois episódios de "desconexão de geração", provavelmente com origem na energia solar.

Especialistas alertam para possibilidade de "erro humano"

No entanto, na opinião de Nuno Ribeiro da Silva, ex-secretário de Estado da Energia e antigo presidente da elétrica espanhola Endesa em Portugal, culpar o solar "não faz sentido nenhum" e não descarta o cenário de erro humano. "Portugal já operou vários dias seguidos só com renováveis e não aconteceu nada. Se havia solar a mais em Espanha naquele dia, a responsabilidade de acautelar a situação era do operador do sistema", disse Ribeiro da Silva ao Negócios, descrevendo o apagão como "algo inédito" e "um soco no estômago da rede".

O especialista acredita que sairá um "relatório preliminar em dias" e que as causas técnicas serão conhecidas em breve, ainda esta semana, sendo importante apurar o que aconteceu naqueles cinco segundos e porque não foi possível travar o "contágio". Depois há que tirar ilações e lições para o futuro. Poderá voltar a acontecer? "É sempre possível, mas a probabilidade é ínfima, como um terramoto ou a queda de um avião. A rede funcionou durante décadas e isto nunca aconteceu antes", referiu

Por seu lado, Jerónimo Cunha, ex-diretor-geral da DGEG e responsável pela área de Energia na EY, sublinhou ao Negócios a necessidade de manter um investimento contínuo e a um maior ritmo nas redes elétricas, para adaptar o sistema à crescente penetração de energias renováveis, por natureza mais intermitente. "A gestão da rede não está adaptada à realidade atual, por isso é necessário aumentar a capacidade da rede, para lhe dar mais redundância e segurança", disse, sublinhando também a "falta de inércia" na rede, uma espécie de "alimentação mínima contínua" para o sistema nunca chegar a zero.

Na sua visão, isto poderia ser feito, por exemplo, a partir dos geradores que ainda se mantém funcionais na central a carvão do Pego. Concorda também com a existência de mais centrais em Portugal com função de "arranque autónomo". Além da Tapada do Outeiro e Castelo de Bode, o Governo já veio dizer que quer as centrais do Baixo Sabor e Alqueva a atuar como "black start". Outra recomendação passa pelo uso de sistemas de inteligência artificial para antecipar fenómenos adversos, avaliar cenários e otimizar o sistema. Também Jerónimo Cunha alerta que um novo apagão pode voltar a acontecer

Numa análise mais técnica, António Vidigal, especialista e consultor em energia, escreveu no LinkedIn que se tratou de uma "oscilação súbita nos fluxos de potência". Depois disso, "a rede ibérica ficou isolada em ilha e foi caindo como um baralho de cartas". "Numa primeira análise, parece ter sido uma perturbação ampliada pela baixa inércia do sistema ibérico na altura do incidente", refere Vidigal, dando conta que antes do apagão Espanha estava com 18,3 GW de solar, 3,6 GW de eólica, 202 MW de hídrica, 3,4 GW de nuclear, 1,6 GW de gás natural, 230 MW de carvão, e a exportar 4,2 GW.

Já Pedro Amaral Jorge, presidente da APREN, diz que a relação entre o apagão e a energia solar não está provada. "O funcionamento do sistema elétrico depende do equilíbrio permanente entre potência disponibilizada e consumida. Se isto não acontecer, os sistemas desligam-se automaticamente, desencadeando um efeito dominó de desconexões", referiu. Depois disto, a recuperação da rede é um processo gradual e altamente exigente".

Por último, João Bernardo, ex-diretor-geral da DGEG, defendeu no LinkedIn que "a segurança energética é uma prioridade indiscutível", argumentando, tal como já tinha feito no passado, que o encerramento das centrais a carvão do Pego e de Sines (em 2021) "trouxe algumas fragilidades ao sistema elétrico nacional que, até ao momento, o reforço das renováveis e o aumento da interligação com Espanha não conseguiram colmatar". "A proximidade temporal dos encerramentos aumentou a vulnerabilidade do sistema. Além de fornecerem 1.884 MW de potência firme e despachável (equivalente a cerca de 8 GW de potência solar ou eólica), estas centrais eram também fontes críticas de inércia elétrica, elemento essencial para a estabilidade do sistema".

"A produção solar, apesar de crescente e desejável, enfrenta limitações. Se a rede falhar, os inversores solares tendem a desligar-se. Ao contrário, as grandes centrais térmicas (a carvão, gás ou biomassa) contribuem ativamente para a estabilidade", referiu ainda João Bernardo, dizendo que "Portugal se vê forçado a recorrer às importações de eletricidade de Espanha".

Portugal já operou vários dias seguidos só com renováveis e não aconteceu nada. Se havia solar a mais em Espanha naquele dia, a responsabilidade era do operador do sistema.Nuno Ribeiro da Silva
Ex-secretário de Estado da Energia

A gestão da rede não está adaptada à realidade atual, por isso é necessário aumentar a sua capacidade, para lhe dar mais redundância e segurança.Jerónimo Cunha
Ex-diretor-geral da DGEG

A produção solar enfrenta limitações. Ao contrário, as grandes centrais térmicas contribuem ativamente para a estabilidade.João Bernardo
Ex-diretor geral da DGEG

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