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Trump acelera colapso do dólar. Moeda arrisca cair do pedestal
06/05/2025 07:00

Se já existia um processo de desdolarização em curso, o isolacionismo norte-americano gerado pela guerra comercial poderá acelerar ainda mais esta tendência, particularmente devido a uma crescente desconfiança em ativos dos Estados Unidos. O "status quo" do dólar e das obrigações soberanas da maior economia mundial tem sido desafiado por uma quebra da ordem de comércio mundial que partiu da imposição de tarifas pelo Presidente dos Estados Unidos no que chamou de "dia da libertação".

Depois de um início de ano em que o índice do dólar ainda chegou a alcançar máximos de dois anos, uma tempestade perfeita tem atirado a "nota verde" ao chão. Quase tudo foi gerado pelas tarifas: a volatilidade nos mercados financeiros, especialmente nos EUA; dados que denotam maior fraqueza da economia norte-americana, em particular na confiança do consumidor; e o aumento das expectativas de cortes de juros pela Reserva Federal (Fed) que, entretanto, têm vindo a reduzir-se, com o presidente da Fed a não dar pistas sobre que decisões pretende tomar nas próximas reuniões.

O mais recente fator penalizador da divisa norte-americana foram as críticas de Donald Trump ao responsável máximo da Fed, Jerome Powell, que arriscam afetar a imagem de independência do banco central dos Estados Unidos – essencial para o estatuto de reserva do dólar. Este episódio gerou mesmo comparações com o mandato de Richard Nixon, em que o então Presidente pressionou publicamente Arthur Burns, presidente da Fed, a tomar determinadas decisões de política monetária. Chegou mesmo a afirmar que "o Arthur apenas fala com Deus e comigo".

A erosão da confiança na moeda norte-americana também está a começar a afetar o mercado.Thomas Hempell
Responsável de "research" de macroeconomia e mercados da Generali Investments

Além disso, uma crescente dissociação dos padrões de movimentação no mercado - em especial de correlação entre o dólar e as "Treasuries" norte-americanas - tem sido desafiada. Não só a "nota verde" desvalorizou num cenário de stress financeiro global, após o "dia da libertação" (em que os investidores normalmente procuram dívida dos EUA, que é considerada um ativo-refúgio), como as "yields" se agravaram.

"Os investidores estão a evitar o dólar, principalmente devido aos receios crescentes de uma recessão nos EUA. Mas o agravamento simultâneo dos juros da dívida a longo prazo sugere que a erosão da confiança na moeda norte-americana também está a começar a afetar o mercado", argumenta Thomas Hempell, responsável de "research" de macroeconomia e mercados da Generali Investments. Os sinais de mudanças fundamentais por parte de investidores estrangeiros, que são detentores de um terço da dívida pública da maior economia mundial, também deverão chegar, dado que "a procura por obrigações soberanas tipicamente reflete o défice comercial dos EUA, o que deverá reduzir-se caso as tarifas sucedam em baixar esse défice", antecipam os analistas do Barclays.

Estatuto de reserva ameaçado? Opiniões dividem-se

Mesmo apesar da mais recente queda do dólar para mínimos de mais de três anos, as opiniões dos maiores bancos de investimento mundiais diferem quanto ao fim do domínio desta moeda como reserva mundial. Aliás, a diferença de "outlook" parece mais visível entre bancos europeus e norte-americanos. Na perspetiva dos "players" financeiros do lado de lá do Atlântico, as notícias da morte do dólar parecem ser vistas como manifestamente exageradas. A multinacional de serviços financeiros Charles Schwab refere, numa nota assinada por Kathy Jones, diretora-geral de ativos de rendimento fixo, que mesmo que "exista uma tendência de longo prazo de diversificação de ativos cambiais, não se perspetiva que o dólar venha a perder a sua posição dominante".

Adicionalmente, para que o recurso ao dólar no comércio mundial se reduzisse ainda mais – o que já tem acontecido no "trading" de matérias-primas, em que cada vez mais "players" internacionais como a Rússia, China e Índia optam por transacionar nas suas próprias moedas, como mostra uma nota da JPMorgan Asset Management – é necessário que surja outra divisa rival com características específicas. "Precisa de ser facilmente convertível e ter um mercado obrigacionista com elevada liquidez para ser considerado seguro para os bancos centrais deterem", acrescenta a análise da Charles Schwab.

[Mesmo que] exista uma tendência de longo prazo de diversificação de ativos cambiais, não se perspetiva que o dólar venha a perder a sua posição dominante.Kathy Jones
Diretora-geral de ativos de rendimento fixo da Charles Schwab

Por outro lado, George Saravelos, "head" de "research" cambial do alemão Deutsche Bank, considera que "o mercado está a reavaliar a atratividade estrutural do dólar como a principal moeda de reserva mundial e está a passar por um processo de rápida desdolarização". E o analista do neerlandês ING Francisco Pesole também não tem dúvidas de que o dólar está a "colapsar" e a "servir como um barómetro de ‘vender a América’", de tal forma que se tem comportado como uma "divisa sensível ao risco, o oposto de um ativo-refúgio" como era conhecido.

Em último caso, a perda do estatuto de reserva do dólar até poderá estar na lista de objetivos do inquilino da Casa Branca. Como recorda uma análise do ING este foi um dos pontos do noticiado "Acordo de Mar-a-Lago", entre o Presidente dos Estados Unidos e a sua equipa económica. O documento argumentava que um dólar robusto, devido ao elevado défice comercial dos Estados Unidos, faz com que as empresas norte-americanas sejam menos competitivas em termos de produção e exportações, e que um dólar mais fraco resolveria esse problema.

À semelhança das críticas de Nixon à Fed também aqui há um paralelo histórico: em 1985 Ronald Reagan usou a ameaça de protecionismo norte-americano para que os aliados assinassem o Acordo de Plaza, que tinha como objetivo a manipulação das taxas de câmbio das moedas de países europeus e o Japão face ao dólar para impedir uma valorização ainda maior que fosse penalizadora para a economia norte-americana.

O mercado está a reavaliar a atratividade estrutural do dólar como a principal moeda de reserva mundial e está a passar por um processo de rápida desdolarização.George Saravelos
"Head" de "research" cambial do Deutsche Bank

O que é uma moeda de reserva? Liquidez, acesso, estabilidade, influência geopolítica e existência num estado de direito são várias das características que o economista-chefe do UBS, Paul Donovan, atribui a uma moeda de reserva "que não precisa de ser perfeita, apenas melhor do que as alternativas". Estas divisas representam reservas de valor, tanto para os bancos centrais, como para as empresas e indivíduos. Como "a parte mais importante das moedas de reserva é o local onde o dinheiro é armazenado, o facto de uma divisa ter este estatuto reduz os custos de empréstimo para o país emissor", neste caso os Estados Unidos, com o dólar a dominar desde 1947.

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